Alta performance virou fetiche corporativo
Nos últimos anos, a ideia de alta performance virou um produto. Aplicativos de produtividade, metodologias de gestão do tempo, gurus de performance que prometem hacks milagrosos. O mercado está cheio de soluções para que você faça mais, mais rápido, com mais foco. Mas aqui está o paradoxo: nunca se falou tanto em performance, e nunca se teve tão pouco resultado significativo. O que está errado?
O que “se pensa” que é alta performance
O imaginário popular associa alta performance a uma rotina quase desumana: acordar às 5h da manhã, trabalhar 12 horas por dia, preencher cada minuto com tarefas produtivas, nunca errar, nunca parar. É a cultura do “hustle” romantizada.
Essa mentalidade não apenas é insustentável, como está cientificamente equivocada. Ela gera uma ilusão de movimento, mas destrói a capacidade de gerar valor real, de inovar e de manter consistência.
A neurociência discorda
Estudos da Harvard Health Publishing mostram que o estresse crônico pode causar mudanças estruturais e funcionais no cérebro, comprometendo a memória, o aprendizado e a regulação emocional (Harvard Health).
Além disso, pesquisa publicada no Cerebral Cortex por Wöstmann, Lim e Obleser (2017) demonstra que a resposta neural alpha ao discurso é um indicador confiável do controle atencional, e que a sobrecarga cognitiva compromete significativamente esse mecanismo (Cerebral Cortex).
Energia > tempo
Alta performance não é sobre gerenciar horas. É sobre gerenciar energia. Tony Schwartz e Jim Loehr, em The Power of Full Engagement, afirmam: “Gerenciar energia, não tempo, é a chave para a alta performance.” (Amazon)
Você pode ter 12 horas no dia, mas se estiver mentalmente drenado, não entregará nada relevante. Por outro lado, duas horas em estado de foco restaurado podem ser transformadoras.
Alta performance começa pelo “não”
O profissional de alta performance não é aquele que diz sim para tudo, mas aquele que aprendeu a dizer “não” para quase tudo. Ele protege sua energia, sua agenda, sua atenção. Entende que cada tarefa tem um custo cognitivo, e que não se trata de fazer mais, mas de eliminar o que não importa.
É aqui que começa a disciplina verdadeira: não em cumprir 20 tarefas por dia, mas em cortar 17 delas.
Uma nova definição de alta performance
Alta performance é a capacidade de acelerar quando é preciso, parar quando for estratégico e mudar de direção quando for inteligente. É agir com intenção, não com impulsividade. É manter energia renovável, não esgotável.
A nova alta performance é regenerativa, seletiva e estrategicamente ociosa. Porque o profissional que consegue parar, pensar e escolher quando agir tem uma vantagem competitiva brutal sobre aquele que está sempre ocupado.
Conclusão: você não precisa fazer mais. Precisa fazer melhor.
Se você ainda acredita que alta performance é sobre intensidade constante, produtividade implacável e uma agenda esmagadora, você está jogando o jogo errado.
A verdadeira performance não está no excesso, mas na sabedoria de saber quando parar, onde focar e o que cortar.
E isso é exatamente o que quase ninguém está ensinando por aí.
Referências
- Harvard Health Publishing. “Understanding the stress response.” https://www.health.harvard.edu/staying-healthy/understanding-the-stress-response
- Wöstmann, Malte; Lim, Sung-Joo; Obleser, Jonas. “The Human Neural Alpha Response to Speech is a Proxy of Attentional Control.” Cerebral Cortex, Volume 27, Issue 6, 1 June 2017, Pages 3307–3317. https://academic.oup.com/cercor/article/27/6/3307/3074418
- Schwartz, Tony; Loehr, Jim. The Power of Full Engagement: Managing Energy, Not Time, Is the Key to High Performance and Personal Renewal. Free Press, 2003. https://www.amazon.com/Power-Full-Engagement-Managing-Performance/dp/0743226755